O aniversário de 40 anos é um acontecimento na vida de qualquer pessoa e para Rodrigo não era diferente. Nas duas semanas anteriores ele se pegou várias vezes pensando sobre a vida e a morte. Estava um tanto quanto melancólico, pensando que poderia já estar na metade do caminho. Ficou mais calado nessas semanas e percebeu que sua esposa e os filhos sentiram.
A data caiu numa terça-feira e Rodrigo acordou animado. Sempre ficava assim na sua data. Levantou, tomou banho e se sentou para tomar café com a família, esperando a festa que normalmente eles faziam. E nada aconteceu. Nem um comentário sobre a data. Nada.
A esposa saiu para levar os filhos para a escola e lhe deu um beijo protocolar, desejando um bom-dia. Os filhos gritaram um “Tchau, pai” já no corredor, entrando no elevador.
Foi para o trabalho um tanto decepcionado, mas com a certeza que os colegas fariam uma bagunça com ele. Rodrigo sempre aprontava alguma brincadeira no aniversário deles e tinha certeza que, nos seus 40 anos, pagaria com juros e correção.
E nada aconteceu!
Passou pelo café e o pessoal comentava sobre as notícias do dia anterior e sobre a reunião da semana seguinte. Trataram como se fosse apenas mais um dia. Esqueceram completamente da sua data.
Rodrigo foi para sua sala, passou direto por Renata, sua assistente, ligou o computador e começou a responder os e-mails, chateado. Alguns minutos depois, Renata entrou e lhe entregou um pequeno presente:
-Parabéns pelo aniversário, Doutor Rodrigo. Uma pequena lembrança para você, chefe.
Um sorriso de criança tomou conta do seu rosto. Se levantou e a abraçou efusivamente, agradecendo e quase foi às lágrimas quando abriu o presente e encontrou uma caixa de seus charutos favoritos!
Poxa, que delicadeza a dela, pensou! Sua manhã se encheu de energia. Logo próximo ao horário de almoço, Renata entrou em sua sala e fez um convite inédito:
-Chefe, vi que o senhor não tem compromisso para o almoço. O pessoal do escritório já foi almoçar e gostaria de convidá-lo para almoçar comigo, em meu apartamento. Vou preparar um risoto de parmesão para nós.
Sua ficha demorou a cair. Renata é uma profissional exemplar, com resultados excelentes e muito inteligente. Foi por isso que brigou muito para mantê-la na sua equipe depois que o estágio dela se encerrou. E também é uma mulher muito, muito bonita. Seu convite o deixou vermelho e até empolgado. O tom de voz que ela usou lhe dizia que ele comeria mais do que um risoto naquele almoço. Aliás, risoto de parmesão era seu prato preferido!
-Claro, Renata. Será um prazer.
Saíram e foram para o apartamento, no carro dele, que não sabia o que falar no caminho. Renata também se mantinha calada. Menos de dez minutos depois, estacionaram na garagem do prédio dela e subiram calados, pelo elevador. Entraram no apartamento e ela, lhe indicando o sofá, comandou:
-Rodrigo, sente-se e fique à vontade. Eu vou colocar algo mais confortável para o nosso almoço.
Antes de passar da sala para o corredor que deveria dar acesso aos quartos, ela se virou e deu uma piscadinha e um sorriso de canto de boca que tiraram qualquer dúvida que ele tinha. E ela ainda o chamou apenas de Rodrigo , sem o já protocolar Doutor.
Cinco minutos depois, Renata voltou, com um bolo de aniversário nas mãos, junto com os colegas do escritório, sua esposa e as crianças.
Ele estava sentado no sofá como ela o deixou. Charuto aceso na boca. Pelado, de pinto duro.
Teria ele negafo aumento a moça, para ela “armar” em cima da armação?
É uma possibilidade. Nunca se sabe o que motiva as pessoas.
Onde se ganha o pão, não se come a carne. Se tivesse se contentado com o risoto, não pagaria o mico.
Mas que graça teria sua história?!
A pergunta é da chamada fo texto, fugiu um pouco do contexto. Mas quando nos limitamos a uma coisa ou outra, isso sempre será risco.
Você está no caninho certo, colocando seus anti-heróis no caminho erraddo.
Rodrigo confundiu os sinais e isso o colocou em uma situação impensável. Fico imaginando como foi a tarde dele.