Ainda menina, Lumi deixa a casa dos pais para cursar faculdade em outra cidade e recebe um aviso muito claro:
-Não me volte grávida!
Oportunidades não faltam. E toda vez que as coisas esquentam, ela ouve a voz do pai:
-Não me volte grávida!
Uns beijos mais quentes, algumas passadas de mão nos seus peitos e um ou outro boquete. Essa é a bagagem sexual que ela carrega quando retorna à cidade dos pais. Amigos em comum apresentam Said e o namoro vira casamento. Cabe a ele tirar sua virgindade e lidar com os efeitos da repressão sexual que ela recebeu dos pais.
Com paciência e persistência, Said a convence a experimentar. E haja paciência!
-Sua bunda é linda, querida. Deixa eu meter nela.
-Não! Isso é pecado! Eu não quero ir para o inferno!
-Vamos experimentar. Não é pecado. E é gostoso.
-Já falei que não! O que vão pensar de mim?
-Ninguém vai saber. É um assunto só nosso. Confie em mim.
-Não sei, Said. E se doer?
-Você me avisa e eu paro. Eu vou devagarinho.
-Você não desiste, né?!
-Você vai gostar, eu tenho certeza.
-Tá, mas só um pouquinho. E vai devagar!
-Pode deixar, querida. Venha, segure você e controle.
-Ai, tá doendo. Não sei se vou aguentar.
-Calma, respire. Deixe assim. Não precisa enfiar tudo.
-Tá ficando bom, pode mexer devagar.
-Tá gostoso, querida?
-Sim, pode meter. Ai, que delícia! Vai, come minha bunda, seu safado!
-Isso, querida, rebola essa bunda no meu cacete!
Entre a primeira menção à sua bunda e o orgasmo espetacular com o cacete do marido espetado no rabo, quase um ano se passa. A paciência e a perseverança de Said vencem mais essa prova.
Said continua com o seu papel de sugerir coisas novas. Lumi recebe cada sugestão da mesma forma: primeiro, com medo e rejeição, depois com curiosidade e finalmente como uma possibilidade. Depois de experimentar, a maioria das novidades é incorporada ao repertório sexual do casal.
Transar no carro, transar na praia, visitar uma praia de nudismo e usar brinquedos são algumas dessas sugestões de Said que se tornam rotina.
A primeira menção a troca de casais cai como uma bomba para Lumi:
-Swing?! O que é isso?
-É troca de casais.
-Como é?! Você quer comer outra mulher?! Eu não sou suficiente para você?!
-Claro que é, querida. E você também vai ficar com outro homem. Não tem curiosidade?
-Não! Eu não sou dessas! Eu nunca vou fazer isso, Said! Você me ofende ao sugerir isso!
Ele recua, percebendo que talvez deu um passo grande demais.
Os anos passam e trazem os filhos. A vida sexual do casal, bem mais intensa do que no início do relacionamento, é afetada com a chegada dos pequenos. Os filhos tomam tempo e energia. Atento, Said propõe que o casal tenha seus momentos a dois. As saídas a sós do casal entram na rotina e os motéis passam a acolher as transas mais quentes que os filhos não permitem em casa.
Lumi aprecia o tesão que o marido tem em seu corpo. E o sentimento é recíproco. Incomodada com seus seios, ela coloca um implante de silicone. Said apoia a decisão e aprova o resultado.
Said incentiva a esposa a exibir em público os novos peitos. Ela resiste. A cada vestido decotado que ele trás como presente, a reação dela é a mesma:
-Said, isso é roupa de puta! Eu não vou usar isso!
E a resposta dele também é a mesma:
-Você vai ficar linda com essa roupa. Não é roupa de puta. Experimente e se olhe no espelho. Se não gostar, não precisa usar.
Ela experimenta, continua reclamando que é roupa de puta, mas gosta do que vê e aceita usar uma vez em público.
Ele insiste nisso e aos poucos o guarda-roupas dela é dominado pelos decotes.
O tema da troca de casais foi abordado outras vezes por Said, sempre com fortes reações da esposa. Quando falou pela primeira vez, conhecia pouco sobre o assunto. Agora, com o apoio da Internet, leu e aprendeu sobre as casas de Swing, sobre o mundo liberal e até sobre um curso para casais que querem aprender na teoria e na prática.
Juntando seu aprendizado e a satisfação da esposa com o implante nos seios, ele faz uma nova abordagem, agora com mais firmeza e persistência:
-Querida, vamos fazer esse curso sobre o mundo liberal?
-Said, de novo você com esse assunto?! Já falei que não quero!
-Amor, olha como você está linda. Seus seios estão fantásticos! Você precisa mostrá-los para outras pessoas, para outros homens.
-Eu fiz o implante para mim, Said. E para você. Não preciso que ninguém os olhe. Eu sei que você quer comer outra mulher. Eu não vou deixar isso acontecer.
-Então podemos começar com um ménage masculino.
-O que é isso, Said?
-Eu, você e mais um homem. O que acha?
-E que homem vai topar isso, Said? Nenhum homem olha para mim.
-Ah, eu tenho certeza que você atrai muitos olhares, que é muito desejada. É só prestar atenção.
-Está maluco, Said?! Claro que não!
-Eu vou criar um perfil seu no Tinder e tenho certeza que você terá muitos matchs.
-Que ideia de doido, Said.
A insistência de Said faz efeito. Ele cria o perfil, seleciona as fotos e entrega para ela usar. Os matches demoram a acontecer. As conversas, mais ainda. Said monitora de perto, dá uns likes e até responde pela esposa, para que o assunto possa fluir. Aos poucos, as conversas ganham tração.
A conversa com o Encantado, casado e que também procura uma aventura no Tinder, se destaca. Ele e Lumi passam a se falar diariamente e ele propõe um almoço. Said entende que ele quer esse almoço no motel e isso assusta Lumi. Ela recua e abandona a conversa.
Percebendo que deu um passo grande demais, o Encantado recua e sugere um encontro numa padaria. Com a insistência de Said, Lumi aceita. No dia do encontro, marcado para o meio da manhã, a ansiedade toma conta dela. E de Said. Será a primeira vez que ela terá um contato com outro homem. Said organiza a logística. Ele chega mais cedo ao local e senta-se em uma mesa próxima. Lumi entra depois. O Encantado finalmente chega à sua mesa.
-Oi Lumi. Nossa, você está linda.
-Olá Encantado. Obrigada. Você também está muito bem.
-Você mora aqui por perto?
-Moro no bairro ao lado. E você?
-Moro mais distante, mas meu escritório é pertinho daqui. Já conhecia a padaria?
-Sim, eu gosto daqui. O pão italiano daqui é ótimo.
A conversa segue, com assuntos triviais. Said acompanha à distância. Lumi não consegue relaxar. Os medos dominam seus pensamentos: sou casada e estou com outro homem. E se algum conhecido nos ver? E se meus filhos souberem disso? Por que estou fazendo isso?
A conversa chega a um beco sem saída e o Encantado se despede, deixando Lumi sentada à mesa. Ela recebe uma mensagem de Said:
-O que aconteceu? Ele foi embora?
Ela responde:
-Sim, ele disse que tem um compromisso.
Antes que ela leia a resposta de Said, uma mensagem do Encantado:
-Adorei você e fiquei com vontade de te beijar.
Ela se surpreende com sua resposta:
-Então volte aqui, ué?!
-Estou voltando, me encontre no estacionamento.
Ela avisa Said:
-Vou encontrá-lo no estacionamento.
Lumi entra no carro do Encantado. Said acompanha do lado de fora do estacionamento. Dentro do carro e longe do olhar dele, o casal se beija. Lumi volta à adolescência e aos encontros com Said no carro, no início do namoro. Os beijos se intensificam e ele passeia com as mãos pelas suas costas e seios. Ela apalpa o cacete dele sobre a calça e sente que foi longe demais.
-Preciso ir. Depois nos falamos.
Ela desce do carro, nervosa, excitada. A conversa com Said acontece ainda sob o efeito da adrenalina:
-Nos beijamos. Ele passou a mão em mim. E eu peguei no pau dele.
-E você gostou?
-Não sei. Estou muito nervosa. Fiquei com medo e saí de lá.
-Ele beija bem?
-Beija. Gostei do beijo dele.
-E gostou do pau dele?
-Não vi, só apalpei rapidamente. Estava duro.
-Por sua causa, sabe disso, né?!
Ela reflete antes de responder:
-Eu sei…
O Encantado volta com o convite para o almoço no motel. Lumi abre o jogo:
-Eu topo, mas meu marido tem que ir junto.
-Como assim?! Ele sabe da gente?
-Sim, ele sabe. E eu só vou transar com você com ele junto.
-Eu não estou preparado para isso.
Com o recuo dele, outro match do Tinder passa a ser o principal alvo. Fernando também é casado. Lumi se encontra com ele para um café. Ao final, beijos no carro dele no estacionamento. Ela explica que um encontro íntimo só acontecerá com a presença do marido. Mesmo assustado, Fernando topa, desde que seja no seu apartamento.
Lumi e Said encontram Fernando no dia seguinte. Ela os apresenta:
-Fernando, esse é Said, meu marido.
-Tudo bem, Said?
-Tudo bem, Fernando.
Ela quebra o silêncio que se forma:
-Vamos?
Fernando dá as orientações:
-Sigam meu carro. Eu abro a garagem e vocês param na vaga de visitante. Temos uma hora, pois depois tenho que buscar minha esposa.
Já no apartamento, Lumi senta no sofá, com Fernando de um lado e Said de outro. Em silêncio, ela toma a iniciativa e beija o marido. Depois, beija Fernando. Ela tira sua roupa. Eles a acompanham. Lumi faz um boquete em Fernando. Said mete nela por trás. Fernando coloca uma camisinha e troca de posição com Said. Lumi recebe o segundo cacete de sua vida em sua buceta. A experiência não dura muito. Preocupado com o horário, Fernando não sustenta a ereção e a transa termina pouco depois de começar.
Lumi e Said ainda estão sob efeito da experiência com Fernando quando Paulo, também do Tinder, os convida para um encontro na noite seguinte. Ao contrário de Fernando, Paulo já saiu com casais antes e sabe conduzir. Ele deixa o casal à vontade e finalmente o ménage acontece como Said esperava. Lumi transa com Paulo e chega ao orgasmo. Depois com Said. Ela sai feliz e realizada do encontro.
-E então, querida? Gostou?
-Gostei. Pode marcar o próximo!
E a tática de Said produziu o efeito esperado. Lumi passou pela rejeição, pela curiosidade, pela experimentação e gostou da experiência. Agora eles incorporam a novidade ao repertório e abrem as portas de um novo mundo.
Como presente pelo aniversário do marido, Lumi aceita participar do curso sobre o mundo liberal. A aula prática na casa de Swing a assusta. Said usa sua paciência e faz os recuos necessários – seu método é vencedor e não há porque mudá-lo.
Cada vez mais cúmplices e confiando no método de Said, o casal experimenta novas práticas. A primeira troca de casal coloca Lumi para lidar com o ciúmes de ver o marido com outra mulher. Não é fácil, mas ela consegue.
As novidades se sucedem: a primeira festa liberal, uma transa com uma mulher trans, um encontro com um japonês, um encontro com um homem negro, um encontro de Lumi com vários homens – um gang bang.
Hoje, seis anos depois da criação do perfil no Tinder, o casal é conhecido e muito querido no meio liberal. E sua experiência é inspiração para vários outros casais.
E o Encantado? Continua rondando, mas com medo de um encontro com o casal. Mal sabe ele o que está perdendo…
Foto de Greg Rakozy na Unsplash